É possível produzir sem agredir e alimentar sem devastar. A natureza tem as respostas que procuramos, o nosso papel é encontrá-las.

O CALÇADO DO FUTURO - SIMPLE SHOES

O CALÇADO DO
FUTURO



    No ultimo artigo enquadramos a reciclagem como uma etapa adicional no ciclo de vida de um produto ou uma etapa final do ciclo produtivo, e que devolve matéria prima para o início de um novo ciclo. Ao término do tempo de uso de qualquer produto que utilizamos, sejam feito de plásticos, sapatos ou geladeiras, o mesmo terá o destino apropriado, já que irá compor parte de serviços e produtos de outras empresas. Entre elas as catadoras de lixo, as de transformação de sucata em matéria-prima, entre outras empresas pertencentes a novos nichos da indústria, aquelas que se aproveitam da sucata e transformam-na em novos produtos. Até o lixo orgânico pode ser aproveitado como combustível ou adubo. Havendo consciência a destinação dos resíduos é quase que total. Imagine a lapiseira de plástico biodegradável: um produto antes de plástico que precisa ser recolhido e reciclado para um produto que se despejado no meio ambiente acaba se decompondo e servindo de “adubo” para o solo além de permitir a redução da dependência da indústria pelo petróleo. Para viabilizar sua concepção diversos estudos foram realizados, diversos processos foram desenvolvidos, técnicas de transformação em plásticos de diversas características, mais flexíveis, mais resistentes, resistentes a sabor, variações de temperatura, etc., e é cada vez mais comum a substituição de embalagens, sacolas, potes, entre outros produtos derivados de polímeros por produtos similares, porém com material degradável.

    Neste artigo iremos conhecer os processos da Simple Shoes, uma empresa que já está lá na frente e pensou em todos os detalhes na concepção de seus produtos. Desde o desenvolvimento da matéria prima, até a orientação e conscientização do consumidor final.






A SELEÇÃO DA MATÉRIA PRIMA

    Entre as atividades de criação e desenvolvimento, incluiu-se o hábito da procura incessante por novas tecnologias, ou novos componentes, o estudo de novos formatos e possibilidades de composição dos produtos comercializados pela Simple, basicamente sapatos e bolsas. No caso de sapatos, por exemplo, na parte superior, ou no tecido do calçado, a empresa utiliza uma variação de materiais como o couro ecológico, a camurça, o curtume vegetal ou algum outro tipo de tecido com fibras rígidas, como de juta ou do cânhamo, que são resistentes, reutilizáveis, e biodegradáveis. Tecidos elaborados com o fio de Pet também são utilizados em alguns casos, um material que tem durabilidade superior a deum tecido convencional de algodão. Um modelo recentemente lançado uniu a versatilidade da juta com fios de Pet na criação de um tecido altamente resistente, tecidos de Pet também são utilizados em cadarços e no tecido do forro de calçados. Quando utilizado o Algodão trata-se do algodão orgânico e, em alguns casos, quando se utiliza a Lã da ovelha, se preocupou em utilizar a lã de criadouros que cortam o pelo da ovelha no verão, uma vez por ano, necessário ao bem estar do animal.
    A palmilha foi desenvolvida pela empresa, denominada de “Rubbahyde”. Sobre a entretela feita de fibra de algodão orgânico é despejado um composto feito à base do látex natural. O solado do calçado é feito com variações entre borracha reciclada proveniente de pneus usados, borracha feita do látex natural (proveniente do sumo na seringueira) e um tipo de Eva “ecológico”. Tal composição torna o solado do calçado biodegradável, se despejado no meio-ambiente em até 20 anos estará totalmente decomposto. Em outros casos o solado é feito do próprio pneu tratado e reutilizado. Um pneu de carro de passeio serve para cerca de 6 (seis) pares de sapatos tamanho 40, e às vezes se aproveita até o design do pneu para o solado. O amortecedor é feito cortiça (rolhas usadas) e de borracha natural em alguns modelos, outros utilizam a espuma proveniente do poliuretano com borracha reciclada. E para montar e fixar os componentes do calçado é utilizado de cola a base de água.
    Outros componentes como câmera de pneus, bambu e seda também são utilizados. Até a embalagem do produto foi considerada. As sacolas plásticas que envolvem o produto são feitas de plástico biodegradável proveniente do milho. Para a fabricação dos moldes e das caixas são utilizados papéis reciclados e usados, e a tinta usada para a impressão da logomarca nas caixas é feitas a base de soja.


 DESENVOLVENDO FORNECEDORES

    Para ser fornecedor da Simple, além de possuir a certificação competente ao seu segmento ou a certificação ISO 14000, o mesmo deverá cumprir as métricas instituídas para seu processo, o que dá a garantia total de origem da matéria prima utilizada. Ao exemplo do couro a garantia de origem é representada pelo certificado ISO 14000 e pelo prêmio BLC*, que é concedido pelo LWG - Grupo de Trabalho do Couro - que inspeciona e certifica produtores de couro que seguem as boas práticas instituídas pela entidade e que avalia desde as praticas utilizadas pelo fornecedor – neste caso o produtor rural - como práticas de cuidado com o meio ambiente ou de manejo animal**.     Todo insumo natural utilizado pela Simple é orgânico. Alguns insumos como o algodão, a juta ou o látex natural são recursos naturais e quando se trata de matéria-prima natural ser “orgânico” significa não agredir o solo e tirar o melhor proveito da colheita, sem afetar o ecossistema ou os seres-vivos pertencentes a ele.
   
Além de selecionar ou qualificar seus fornecedores, a Simple não teria alcançado suas metas se estivesse limitada a utilizar o material “ecológico” disponível no mercado. Hoje está instituída a postura proativa de seus funcionários, sejam ajudantes ou designers, faz parte do dia-a-dia de seus colaboradores pensar em alternativas melhores. Boas idéias são desenvolvidas entre funcionários e os fornecedores que detém a tecnologia necessária, ou parte dela, para o a criação de novos materiais usados na produção de bolsas e calçados. O processo de desenvolvimento de fornecedores além de trabalhoso requer comprometimento mútuo, confiança e visão de futuro, ou seja, verdadeiras parcerias de negócio. É preciso prosperar em conjunto e investir em novas tecnologias para atingir o resultado almejado.

DURANTE O PROCESSO

    A constante busca por eficiência além de permitir reduzir custos também reduz a quase zero o material descartado. Além disso, tudo se aproveita na produção de um calçado Simple. Não bastaria apenas pensar na matéria prima sustentável, tirar o melhor proveito de todo material utilizado também é um desafio na empresa. O resto do pneu utilizado recebe um novo tratamento, ou é misturado com outro material, criando um solado diferente, que se enquadra a outra linha do produto. Buscando o melhor aproveitamento na utilização de tecidos de couro, algodão ou camurça a Simple criou uma linha de calçados para bebês, feitos com a sobra dos tecidos. Outros materiais como o tecido de PVC, da juta, ou do bambu, podem ser tratados e reinseridos no processo. Estes são apenas alguns exemplos que descrevem a atitude da Simple no desenho de seu processo produtivo em respeito às praticas de preservação do meio-ambiente.

    Antes de lançar um produto no mercado a Simple vai além de qualquer outro calçadista no mundo. O máximo será aproveitado da sucata, sejam pneus, câmeras, carpetes usados, papéis usados ou rolhas, serão utilizados em conjunto com outros produtos que foram concebidos de maneira consciente com garantia de origem, e com outros insumos biodegradáveis, e por aí vai. Tudo isso - além da eficiência no uso do material e cuidado com o despejo - é entregue ao consumidor com a mensagem “algumas vezes o nosso progresso é notável, embora outras seja difícil conquistar qualquer tipo de melhoria. O importante é que estamos comprometidos a fazer um produto 100% sustentável”. Hoje a empresa é parte de um grande grupo calçadista nos Estados Unidos que cuida apenas dos ativos da empresa, e que viu na Simple um negocio altamente rentável.

1. Para maiores detalhes acesso o site http://www.blcleathertech.com/ ou http://www.leatherworkinggroup.com
2. Durante todo o processo do “curtume” são utilizados insumos como corantes ou solventes que são em muitos casos desperdiçados e dispensados no meio natural. A economia destes recursos pode chagar a 80%, quando usados de forma controlada. Muita água também e desperdiçada no processo se não forem implementadas praticas de contenção do uso, tratamento e reuso da água, e tudo isso deve ser controlado. Dezenas de produtores rurais no Brasil tiveram seus produtos recusados no exterior por não atenderem pré-requisitos como: o percentual de área produtiva devastada superior ao máximo permitido, problemas com a vigilância, problemas com o manejo, entre outras inconformidades.

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